Sou alguém T-shaped
Ou "de como se navega entre saberes". Ou "o especialista-generalista, conhecido como T-shaped"
Estou há tempos pensando em questões sobre polimatia e vou colocar aqui, a princípio sem articular demais, para não perder o fio do raciocínio:
Ser polímata seria alguém entender/ dominar vários campos do saber.
Mas...
Uma questão que me "pego" pensando é até que ponto o polímata rompeu (mesmo, mesmo, mesmo) os silos de conhecimento que ele domina, para mesclar com, dialogar com, assimilar outros e assumir a complexidade dos fluxos entre eles.
E para fazer com que haja estes fluxos entre os saberes, mesmo reconhecendo suas fronteiras. Ou criando novas.
E daí meu pensamento "escorrega" para:
O quanto o polímata sabe/consegue "nadar/submergir/emergir" nas e das fronteiras e interfaces dos conhecimentos que ele domina, nos que ele navega e nos ele procura?
O quanto de serendipidades e epifanias o polímata se permite?
O quando de consiliência(s) o polímata faz?
Porque se você é uma pessoa transdisciplinar, preocupada com silos fechados de conhecimento, estas questões são cruciais.
Fronteiras e interfaces todo conhecimento tem, é esperado, senão não se poderia nomeá-lo, por exemplo.
E é por isso que as vezes um profissional para conversar com um estudioso (ou vice e versa) precisa de um interprete, um mediador de linguagem.
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Lembrei que eu havia escrito algo, falando sobre os filósofos, os sábios, os polímatas.
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Mas daí eu li algo sobre ser alguém "T-shaped".
Recentemente conheci o termo "T Shaped" (o nome, não a definição) e o interpretei como [especialidades + generalismo + complexidade].
Especialidades = você escolhe o que lhe interessa aprofundar e até onde ir (e pode ser mais de uma).
Generalismo = você escolhe o que quer conhecer e até onde vai expandir no conhecimento geral (ter condições de contorno aqui é importante).
Complexidades = você faz as ligações que lhe são significativas e você escolhe como montar seu sistema de conhecimento e aplicação (e talvez seja útil estar em comunidades de aplicação e/ou estudos e/ou experimentação).
E lembrando que é essencial ter, para este tipo de pensamento - posicionamento, um olhar que vai do singular ao geral (todo) e vice versa, que inclusive param em patamares no caminho conforme queiram - necessitem - escolham.
Mas continuando...
Até onde vai o "generalista", até onde vai o "especialista"?
Eu nunca havia prestado a devida atenção ao termo "T-shaped".
Prestei a atenção quando li o artigo do Haendel Motta sobre isso.
Achei bem interessante, não sabia que isso tinha nome, mas conheço algumas pessoas assim.
Eu sou assim.
E daí li um comentário do André Luiz :
"Eu gosto muito do perfil T-shaped e até suas variações, me identifico com essa linha. Até onde você consideraria interessante o limite desse fundo ? Pois vejo problemas no fundo também."
E fiquei me lembrando de uma época (20 anos atrás...) em que eu frequentava grupos de pesquisa básica em substâncias dinamizadas, onde eu "brincava": "se não tomarmos cuidado com os estudos, vamos entrar na seara de sermos especialistas, e fazer pesquisas, atuando e falando sobre a quarta vértebra do rabo da lagartixa marrom".
Mas naquela época eu não tinha a visão de redes, de transdisciplinaridade, de complexidade que tenho agora.
E que por isso agora adiciono "o caso da lagartixa marrom e sua quarta vértebra” ao que eu falo há muito tempo sobre "silos fechados de conhecimento" e da falta de comunicação entre estudiosos das mais variadas e diferentes áreas.
Porque este tipo de estudo, se não ficar perdido nas profundezas de uma revista técnica ou em silos de conhecimento, poderá ser útil a alguém.
Para quem? Não dá para sequer imaginar, ainda mais em uma abordagem transdisciplinar.
E que hoje sei que também se relaciona com o que falo neste artigo sobre "dimensões de atuações".
O problema não é a profundidade em si (do especialista) ou da extensão "a perder de vista" do generalista.
O problema é tanto um quanto o outro se perderem na profundidade e/ou na extensão e seus estudos virarem uma bagunça sem relevância.
E eu coloquei "e/ou" porque o T-shaped corre o risco de se perder nos dois.
Porque como coloca Helena Almeida no seu artigo :
... "Talvez... a criatividade more nesse contraste: entre o olhar múltiplo, que explora o que está além da linha do horizonte, e o olhar único, que insiste em ver tudo de forma direta, focada e linear... Ou seria um hiper-hiperfoco?" ...
O que salva?
Aquela coisa "batida", "chatinha", lugar comum para quem é pesquisador, chamada "metodologia".
É aí que você define seus parâmetros e o porquê deles.
É ali que você define parâmetros para não se perder e é para onde você "corre" quando começa ter a sensação de que está se perdendo.
E para terminar, coloco que uma área que eu adoraria que emergisse é dos mentores "especializados" em profissionais T- Shaped.
(Talvez uma mentoria para mentores T-shaped ?)
Porque é muito bom ser assim, mas as vezes ( as vezes...?) aparece (nos mergulhamos em...) cada "perrengue"...
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Obs: tudo que falei acima é MUITO aplicável a tecnologia, a IA e cia.
Ou a que se quiser aplicar.
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