Veganismo e bem estar animal
Veganismo versus bem estar animal [1]
“Não há sistema orgânico que respeite a natureza evolutiva dos animais criados para o abate ou extração de leite e ovos.
Todos os animais acabam mortos quando seus organismos não prestam mais para produzir o que se quer extrair deles, ou quando seus organismos estão no "ponto" para se extrair o que se quer deles, exemplo dos que são mortos para virar bife.
Então, do ponto de vista abolicionista vegano, manter o animal em condições decentes mais visando matá-lo ou explorá-lo em seguida é pura hipocrisia, porque esses animais sequer são respeitados em seus ciclos naturais de vida.
Um frango é morto aos 30 dias, hoje, quando sua vida natural seria de 9 a 14 anos. Um porco é morto aos 140 dias, quando sua vida natural seria de 10 anos. Um bezerro para bife é morto com menos de dois anos de idade, quando sua vida seria de 18 a 22 anos.
Mesmo a produção orgânica vive a matar os bebês de galinhas, de porcas e de vacas.”[2]
Isto é fato. Ocorre.
Mas não muda o fato de que mesmo que todos resolvessem ser ‘veganos’ já, neste instante, há toda uma situação que precisa de transição.
Por que a grande pergunta é: o que se faria?
Iria-se matar toda a produção animal existente no momento?
Soltar todos… onde?
Criar todos até sua morte natural… onde?
“Então, do ponto de vista abolicionista vegano, manter o animal em condições decentes mais visando matá-lo ou explorá-lo em seguida é pura hipocrisia, porque esses animais sequer são respeitados em seus ciclos naturais de vida”.
Embora isso seja um fato, não é o fato completo.
Há algo, no meu ponto de vista, que pode começar a ser implantado já e que se bem implantado levará a uma paulatina redução do consumo de produtos de origem animal, até que este consumo cesse.
E sobre isso é este artigo.
Bem estar animal e vegetarianismo
Bem estar animal versus não consumir carne (proteína de origem animal)?
Não é versus.
As pessoas tendem a confundir os dois e é um engano, são coisas complementares, embora sejam MUITO diferentes.
Vai chegar o dia que o consumo de produtos (e proteína) de origem animal não mais ocorrerá, mas até lá deveríamos, ou mais, devemos nos preocupar com tudo que se refere ao bem estar animal.
Começo pelo (literalmente) fim ao dizer que todo ser vivo morre.
Inexoravelmente.
Mas é necessário se ter consciência que importa (e muito) o COMO se morre.[3]
Não é necessário que abatedouros sejam “abatedouros”.
Não é necessário que os animais sejam transportados aos abatedouros como são transportados. É crueldade. E é MUITA crueldade.
Ver aves e porcos sendo transportados em caminhões pelas rodovias, amontoados uns nos outros[4] , nos dá a exata noção de como os consideramos: meros fornecedores de proteína animal, não como os seres sencientes[5] que são.
Já passamos da fase de incluir o argumento, em uma conversa, de que animais de produção não sentem dor ou emoções, já foi provado por “n” trabalhos científicos que isso é uma mentira que contamos a nós mesmos e que escolhemos acreditar nela. [6]
E é disso que se trata o bem estar animal aqui: como fazer este manejo, esta transição “criadouros – abatedouros” de maneira mais ética e respeitosa possível?
Partindo deste pressuposto, mesmo com pessoas que não se sentem preparadas para aderir ao vegetarianismo (em que grau for), seria possível discutir:
- bem-estar animal (e ética/bioética [7] e respeito a todos seres vivos), porque não dá mais para “usá-los” como se fossem objetos, eles não o são,
- o que seria ecologicamente [8] (e etologicamente [9]) mais adequado no caso da criação de bovinos, caprinos, aves e outros, como já o fazem os vários segmentos de agropecuária orgânica certificada?
Porque já é um passo adiante não privilegiar somente o quanto eu ganho com a morte deles, mas também ver como posso melhorar sua vida/morte,
- a diminuição de consumo de carne animal (por exemplo, aderindo à campanha das “segunda feira sem carne”[10]).
Porque não é viável aumentar o consumo, mesmo que este consumo não cesse, é economicamente inviável,
- alternativas, eficientes, de suplementação de proteínas que substituam a proteína animal, mas que não sejam a SOJA (ela faz tanto mal, ecologicamente falando, quando a criação animal, por que ela é uma monocultura [11]), e como tornar isso possível com estudos cada vez mais frequentes de plantas com alto teor de aminoácidos essenciais.
Por que os aminoácidos que nosso organismo necessita para viver não precisam necessariamente vir de animais e de seus produtos e de suas carnes,
- e outros.
Estes escritos não foram feitos, certamente, para aqueles que não consideram índios ou quilombolas como seres vivos que merecem respeito ou atenção.
Mas foram feitos para aqueles que sabem que não estamos agindo corretamente com a maioria dos seres vivos da Terra, mas que não sabem o que fazer para reverter isso.
Nunca estivemos tão perto de fazer isso de maneira razoável a todos os envolvidos. Nunca estivemos tão perto de incluir conversas e ações a respeito da vida e a Terra a tantos.
Respeito.
[1] Minha formação inicial é em veterinária e homeopatia.
Mais sobre mim em mthamaral.wordpress.com/
[2] https://www.facebook.com/GalactolatriaMauDeleite - texto retirado desta página em idos de 2014.
[3] E isso não vale só para não-humanos, mas este já seria assunto para outro artigo.
[4] E já vi este “espetáculo” algumas vezes na Rodovia Castelo Branco, em São Paulo.
[5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Senci%C3%AAncia
[6] Para quem o duvida, o Google acadêmico está aí para isso, é só jogar algo como “animais sentem dor” ou “inteligência animal” (de preferência em inglês) para que apareçam inúmeros trabalhos de pesquisadores conceituados e de pesquisadores independentes.
[7] pt.wikipedia.org/wiki/Bio%C3%A9tica
[8] http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecologia
[9] http://pt.wikipedia.org/wiki/Etologia
[10] www.segundasemcarne.com.br
[11] http://pt.wikipedia.org/wiki/Monocultura
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