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Esta é uma daquelas ocasiões em que eu ser (também) pesquisadora em História da Ciência aflora.
Ler um livro de outro século não é exatamente um problema.
O problema é não considerar quem o lê como um editor e curador de seu conteúdo.
Porque este leitor está lendo com seus olhos e sua bagagem.
Alguém do século XVII, ou do século XVIII, ou do século XIX, ou do século XX, ou do século XXI, não lê da mesma maneira um livro francês do século XVI.
Alguém que seja da física, ou da biologia, ou da sociologia, não lê da mesma maneira um livro francês sobre ciências naturais do século XVIII.
Alguém que esteja mergulhado em sistemas complexos e em transdisciplinaridade, não lê da mesma maneira que alguém que não esteja, um livro francês sobre filosofia do começo do século XIX.
Além do fato que um livro (e seu autor) podiam estar na França do século XVI e você estar agora no século XXI (e com toda sua bagagem pessoal, geracional, local, etc), mas sua literatura secundária e/ou de apoio estará no mínimo nos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI. Ou poderá estar.
Nada disso que foi dito é bom ou ruim, ruim é não ter consciência de si mesmo enquanto leitor, editor, curador e pesquisador e onde está, o que é, de onde veio e para onde está querendo ir.
Porque tudo que você fala sobre algo - inclusive sobre um livro que você está lendo e/ou trabalhando com ele, é VOCÊ dizendo algo sobre ele.
Bom é ter senso crítico apurado juntamente com o mínimo de preconceito possível.
E sabendo que mesmo na construção de SEU conhecimento, "uma andorinha só não faz e não traz o verão".
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