Empatia...
Há um tipo estranho de "empatia" onde a pessoa quer realmente (mesmo, mesmo, mesmo) fazer uma gentileza, um gesto, se preocupar com o outro, mas paradoxalmente ela não enxerga o o outro, só a si mesma.
Neste tipo de panorama, a pessoa não consegue enxergar o outro, ou pior, pensando que está enxergando o outro, só consegue se enxergar, como se este fosse o seu único "filtro" no que chamamos de ver o "ele-eles".
O "nós", para quem tem este tipo de percepção distorcida, é "samba de uma nota só", por que é uma versão plural do "eu".
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E aí o fato é que não consegue mesmo, não é que não quer.
É quase uma "falha funcional".
Embora eu queira crer que, na maior parte dos casos não, é uma "falha estrutural".
A consequência cruel disso, para ambos, é que a pessoa (1) que está presa neste "redemoinho de não enxergança" faz ao outro "o que ele pensa ser bom porque é bom para ele", mas que não é o que o outro (2) precisa.
E as vezes, além de não ajudar, atrapalha.
E a pessoa (1), que fez o gesto, não consegue entender a reação da pessoa (2) ao que ela está fazendo, parece que "o seu entendimento quanto ao que realmente acontece" está preso numa bolha, com uma membrana que não se rompe. Corresponde ao que ela pensa estar acontecendo e não ao que aconteceu.
Consequências: a pessoa (1) que faz o gesto se sente injustiçada e não entende as críticas, e a pessoa (2) que recebe "o presente bem intencionado, mas não o que lhe é necessário" fica sobrecarregada, não está bem e ainda tem que segurar "a onda" da outra pessoa.
Conclusão: ter percepção de si é parte da manutenção de saúde mental, e não dá para fazer sozinho.
Porque só tendo (mesmo, mesmo, mesmo) consciência de si é possível ter uma empatia genuína (e que contempla eu-ele-eles-nós) e que daí possibilita passar ao estágio seguinte, o da compaixão.
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