Bioética : Moral ou Ética
Bioética : Moral ou Ética
O que seria bioética... ?
Manual de boas maneiras ?
Como agir perante conflitos ?
Como respeitar o próximo ?
Como fazer sua empresa sair na mídia em dez lições ?
Moral ou ética ?
Independentemente das asserções acima, bioética antes de tudo é o respeito consigo mesmo e com os outros habitantes do planeta Terra.
E o apoio aos estudos de como faze-lo.
Sem isso, o planeta Terra está ficando e vai inexoravelmente se tornar inviável.
Ou será que é tão difícil ver, perceber e sentir isso?
Pode-se considerar que o estudo da bioética tem duas grandes áreas de concentração.
A que tem como ponto de referência o homem (bioética em medicina) e a que tem por ponto de referência todos seres vivos e a Terra (bioética e bem estar animal).
Aos que sintam quase um 'comichão' (aos não-brasileiros, ‘coceira’) em colocá-las como oponentes ou em campos contrários, advirto que não façam isso.
Elas são isto mesmo que está escrito acima, áreas de concentração de estudo de um mesmo tema.
O perigo, e este é realmente um grande perigo, é serem consideradas coisas diferentes.
Não são.
Mas, do que exatamente estavam falando? O que a bioética diferiria da ética? Por que o alvoroço, o destaque? Poder-se-ia dizer que estão intercalados?
Começamos dizendo que a noção de que vivemos em um universo que é um sistema complexo e dinâmico é imprescindível. Penso ser impossível lidar com noções de bioética somente com recortes de realidade, locais e estáticos.
Antes de qualquer outra consideração, temos que ter em mente que a partir do momento em que alguém, ou um grupo, se propõe a tratar seus estudos de uma maneira multidisciplinar ou transdisciplinar[1], algo muda em sua postura perante o mundo. É ingenuidade ou impostura supor que esse tipo de atitude seria semelhante, ou igual, a um jaleco de laboratório, que se veste e se tira ao entrar ou sair do trabalho. É um tipo de postura que vai junto para casa mesmo quando o trabalho cessa.
Mas por que discutir isso?
Porque se enxergo e atuo em meu trabalho de uma maneira multi ou transdisciplinar, eu tenho de saber que estou me movendo em um mundo complexo, com várias situações acontecendo ao mesmo tempo, com vários seres atuando, nascendo, vivendo e morrendo ao mesmo tempo, isto apesar de ocorrerem ou não intervenções minhas.
Também tenho que saber de antemão que tenho responsabilidades com relação ao mundo e aos seres que me cercam.
E esta á a parte difícil deste discurso.
A aplicação destas idéias.
[1] A título de uniformização de linguagem, esclareçamos para este artigo os termos interdisciplinaridade (vários grupos, ‘homogêneos” em seu interior, colaborando entre si para trabalhos em conjunto), multidisciplinaridade (em um mesmo grupo, profissionais de formação diferentes trabalham em torno de um projeto comum) e transdisciplinaridade (em um mesmo grupo, profissionais, cada um deles com mais de um tipo de formação, trabalham em torno de um projeto comum).
E quais as aplicações práticas da bioética?
Ser um norteador em todas as situações que envolvam seres vivos e ciência, mais notadamente em experimentações, clínicas ou experimentais.
Estará ferindo a legislação? Estará ferindo algum ponto de vista ético? Qual a finalidade deste experimento? O que é? Para que? Como faze-lo? – são perguntas a serem respondidas pelo(s) pesquisador(es) e conferidas regularmente se estão sendo respeitadas ou não por alguém (ou grupo) designado para isso.
Falam os especialistas que a aplicação da bioética é o que nos distanciará, um dia, do obscurantismo científico (que muitos ainda não identificam) no que envolve o trato com o ser vivo.
Mas podemos também nos referir ao sufixo bio’, da palavra ‘bioética’, fazendo algumas considerações.
É necessária a noção de que a observação e o uso de outros animais sempre envolve nossa ótica, nosso ponto de vista.
Não temos a capacidade de nos transformar em outros seres para averiguar suas sensações só por que queremos. Não ‘viramos’ uma formiga. Não ‘viramos’ um sapo. Não ‘viramos’ um macaco.
E isso acarreta a necessidade de sermos humildes o suficiente para reconhecer que só a custa de muito esforço chegaremos a um denominador comum do que é honrado para nós e para eles.
Em nosso aprendizado sobre outros seres vivos, de observadores passaremos a aprendizes. De aprendizes a auxiliares. De auxiliares a profissionais atuantes. Só assim poderemos pretender criar e sermos profissionais atuantes, efetivos e que lidam com vida de maneira regenerativa.
Só assim teremos competência para moldar uma nova forma de relacionamento com os outros seres que habitam a Terra.
Pois é necessário refletir para onde nos levará a arrogância de acharmos que podemos impunemente escolher quem merece deixar descendentes e quem não merece. Ou a escolha de qual característica deveríamos manter e desenvolver geneticamente nos seres vivos. Ou qual tirar.
Pois como bem o disse (em um evento de anos atrás) o veterinário e professor assistente da UNESP-Botucatu João Carlos P. Ferreira[1], entre a crueldade do homem para o homem e a crueldade do homem para com os animais, só existe uma diferença, a vítima.
E nesta história, nem a ciência deve parar e nem o bem estar e direitos dos animais deve ser esquecido.
É fácil ? Não.
Mas como nós somos, supostamente, os seres pensantes (embora não os únicos sencientes), este é um ‘nó’ que vamos ter desatar.
[1] Baseada em palestra proferida pelo veterinário e professor assistente da UNESP-Botucatu João Carlos P. Ferreira, dia 11 de maio de 2002, durante o Congresso de Bioética, ‘Manipulação genética animal: transgênicos, clonagem, sexagem e fertilização in vitro’.
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